domingo, 15 de junho de 2008

Acorda Brasil!

O Leão de Chácara nordestino dos Treze sagrou-se Campeão da Copa Dois Brasis.

Não sabemos quando, mas, gostaríamos muito de saber, com quantos anos, Brasília irá, finalmente, irradiar um pouco de poder constituído democrático para o Brasil como um todo e sem viés.

Há cerca de quarenta anos atrás, existia em nosso país uma competição denominada Taça Brasil.

Esta grande Copa Brasileira tinha características semelhantes com a atual Copa Dois Brasis.

Em virtude do seu descomunal território continental, o país era dividido em duas metades aproximadas – Norte/Nordeste e Centro-Sul. Os clubes de Estados vizinhos eram agrupados, dois a dois, e disputavam partidas eliminatórias em jogos de competitividades equiparadas. Por razões estratégicas contra a autofagia, os grandes clubes pauliôcos já entravam nas fases finais.

À proporção que a competição afunilava, a vez e a voz dos competidores engrossavam o caldo com a definição dos semifinalistas das duas grandes sub-regiões.

Veja a relação dos clubes semifinalistas nos dez anos que durou a competição:

Ano
Campeão
Vice-campeão
3º lugar
4º lugar
Artilheiro

1959
Bahia (BA)
Santos (SP)
Grêmio (RS)
Vasco da Gama (RJ)
Léo (
BAH) 8 gols

1960
Palmeiras (SP)
Fortaleza (CE)
Fluminense (RJ)
Santa Cruz (PE)
Bececê (
FOR) 7 gols

1961
Santos (SP)
Bahia (BA)
América (RJ)
Náutico (PE)
Pelé (SAN) 9 gols

1962
Santos (SP)
Botafogo (RJ)
Sport (PE)
Internacional (RS)
Coutinho (SAN) 7 gols

1963
Santos (SP)
Bahia (BA)
Grêmio (RS)
Botafogo (RJ)
Pelé (SAN)Ruiter (CON) 12 gols

1964
Santos (SP)
Flamengo (RJ)
Ceará (CE)
Palmeiras (SP)
Pelé (SAN) 7 gols

1965
Santos (SP)
Vasco da Gama (RJ)
Náutico (PE)
Palmeiras (SP)
Bita (
NAU) 9 gols

1966
Cruzeiro (MG)
Santos (SP)
Náutico (PE)
Fluminense (RJ)
Bita (
NAU)Toninho Guerreiro (SAN) 10 gols

1967
Palmeiras (SP)
Náutico (PE)
Grêmio (RS)
Cruzeiro (MG)
Chiclete (
TRE) 6 gols

1968
Botafogo (RJ)
Fortaleza (CE)
Cruzeiro (MG)
Náutico (PE)
Ferretti (BOT) 7 gols

Fontes: Wikipédia e RSSSF-Brasil.

Em dez anos de existência da competição, sempre havia um ou dois clubes do nordeste nas semifinais da Taça Brasil. Mesmo, considerando que o Botafogo-RJ e o Palmeiras-SP desequilibravam a competição com os seus elencos portentosos e, principalmente, o Santos com Pelé e Cia., as demais regiões do país tinham grande participação no certame. Em dez anos, cinco clubes do nordeste foram vice-campeões da competição, e uma vez Campeão, com os artilheiros nordestinos emplacando em seis temporadas, sendo alguns dos clubes de Estados menores como Chicletes do Treze F.C. e Ruiter do Confiança-SE. UMA VERDADEIRA FESTA DE INTEGRAÇÃO.

Enquanto durou, a soberba e lícita competição, para os padrões da época, sempre apontava um ou dois grandes clubes do eixo inicial Belo Horizonte-Rio-São Paulo-Curitiba-Porto Alegre e Centro-Oeste e um ou dois do eixo inicial Manaus-Belém-São Luiz-Fortaleza-Recife-Salvador. Muitas vezes, os clubes dos Estados menores chegavam na fase anterior às semifinais, em rivalidades regionais de jogos animadíssimos.

Todos que viveram aqueles momentos de alegria da antiga Nação integrada, recordam-se, com saudade, os memoráveis embates entre os grandes clubes semifinalistas de Fortaleza, Recife e Salvador (Fortaleza, Ceará, Náutico, Santa Cruz, Sport e Bahia) contra os clubes semifinalistas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre (Cruzeiro, Botafogo, Vasco, Flamengo, Fluminense, Santos, Palmeiras, Grêmio e Internacional). Esses espetáculos finais magníficos ocorriam todos os anos e não somente um há cada 20 anos.

Essa magnífica Taça Brasil deveria ter evoluído para o sistema de grupos de quatro clubes como a atual Copa Santander-Libertadores e em seguida ter dado um salto qualitativo para os grandes certames regionais implantados entre 1997 e 2002 no Brasil, como fases classificatórias para as finais da Copa do Brasil.

Em passado recente (2000-2001-2002) existia um grupo de competições com essas características de integração do futebol brasileiro, os quais, culminavam com uma extraordinária Copa dos Campeões.

Essa seria a verdadeira Copa do Brasil, justa, íntegra, isonômica, competitiva e lícita.

Entretanto, os eternos açambarcadores de vantagens não aceitaram o fato do Paysandu ter conquistado uma vaga na Copa Continental de 2002 e ter representado o Brasil à altura de um grande clube que é.

Em 2000, o Sport Clube do Recife já havia se sagrado vice-campeão numa disputa acirrada contra o Palmeiras e esse crescimento dos clubes das demais regiões não agradava aos espertos do eixo Belo-Rio-S.Paulo-Porto Alegre, acostumados a mandar e desmandar no futebol do país, desde 1987.

E assim, reunidos numa Granja alhures, decretaram o fim da democracia incipiente e conquistada em uma década de lutas de toda a comunidade futebolística nacional, em uma única canetada.

Brasília e o seu Ministério Soviético dos Esportes que havia subscrito a implantação dos certames, viraram-se, rapidamente, de costas para os clubes desprezados do país.

O jogo desta última quarta-feira em Recife, entre Sport e Corinthians matou a saudade dos velhos tempos imemoriais das décadas de cinqüenta e sessenta.

Vinte anos, tristes e acabrunhantes, se passaram, desde que uma concessionária pública de TV e uma dúzia de espertalhões decretaram o encolhimento do nosso futebol para beneficiar, exclusivamente, os seus sócios.

A atual Copa Dois Brasis é o símbolo da lenta agonia por que passa o futebol brasileiro atual. Começa com jogos dirigidos e desproporcionais entre 20 clubes milionários por decreto da TV e de uma Associação já condenada pelas organizações internacionais do futebol contra os pobres clubes moribundos do Brasil dos excluídos, esfarrapados, espoliados e carcomidos, de segunda classe.

Em duas décadas de existência, um e apenas um clube, da metade setentrional e central do país teve condições de ganhar uma Copa Dois Brasis e poder disputar a integração continental de fancaria estabelecida pela convergência de dominação futebolística. Mesmo assim, trata-se de um sócio intruso da tal Associação, que despreza os demais grandes clubes de Pernambuco, o Náutico e o Santa Cruz, os quais, definham a olhos vistos, num grande desserviço ao futebol de Pernambuco e do país. O mesmo ocorre em Goiás, onde o Vila Nova e o Atlético estão excluídos da grande farsa em benefício do Goiás e no Paraná, onde o Paraná Clube e o Londrina são os excluídos. Os clubes dos demais 18 Estados estão totalmente excluídos.

Infeliz é o país que possui uma competição dita Nacional que elimina 50% dos competidores deserdados na primeira rodada, a maioria com apenas um único jogo.

Que participar da festa otário? Participe se quiser. Mas, as regras são claras. Nós ganhamos tudo e vocês perdem sempre.

O esforço do Presidente Juscelino, ao criar Brasília, para integrar o país e descentralizar a renda e o poder, continua uma quimera.

Bons tempos em que Manaus, Belém, São Luiz, Fortaleza, Recife, Salvador e Goiânia tinham algum peso no futebol brasileiro.

Hoje e há 20 anos, quem manda e ganha toda a grana e todas as competições são os 12 clubes mandarins da Convergência de Dominação já citada, com o acoplamento de alguns pesos mortos de Recife, Salvador, Curitiba, Goiânia e Campinas, que não passam de chupa-dedos e recolhedores das migalhas dos milionários.

Esperamos, sinceramente, que os 12 ou 14 governadores dos Estados mais ricos, que foram chamados a colaborar e participar no esforço conjunto para a Copa do Mundo de 2014 chamem os espertalhões na chincha e ponham um fim a essa vergonha institucionalizada.

De qualquer modo, a justa e meritória vitória do Sport Clube do Recife na Copa Dois Brasis é uma luz no fim do túnel. Só nos resta sabermos, se o clarão ofuscante não se trata de um holofote da Locomotiva da Morte com os seus treze vagões de esterco e máquinas caça-níqueis viciadas.
Editado com nostalgia por Roberto C. Limeira de Castro às 14:28 para que os jovens deste país saibam que o futebol brasileiro já foi muito melhor que é hoje.

Nenhum comentário: