Na semana da água lemos tantas asneiras destiladas na mídia embutidora de lingüiça de todas as matizes sobre esse assunto, que resolvemos lançar um repto no contra-ponto.
Será que os inocentes úteis acreditam mesmo que o sol apenas evapora as águas doces? Será que os descomunais oceanos terrestres estão fadados a secar? Se as águas disponíveis nos oceanos estão prestes a inundar as planícies costeiras na baboseira do aquecimento global, por que faltaria água para os humanos beberem e irrigarem as suas lavouras? Ou será, que se fingem de desentendidos para ludibriar a grande platéia?
Francamente, não acreditamos que o nível do nosso ensino de ciência fundamental chegou a tal nível de deficiência, que tem lançado no mercado, tantos extra- lúcidos, muitos com o curso superior, que desconhecem o ciclo básico da água.
Até entendemos que falte um conhecimento mais esmerado em geografia física e política do Brasil, para que milhares de repetidores reflexos fiquem expondo as suas aleivosias ideológicas sobre o desmatamento da Amazônia e sobre o conto da carochinha do aquecimento global.
Ora, se metade da Amazônia já está engessada de sua área total por florestas compulsórias legais – reservas indígenas, florestais, extrativistas e biológicas, parques nacionais, estaduais e municipais, apas e o raio que o parta e a outra metade por reservas de 80% das propriedades particulares, também compulsórias de suas florestas, sobram, em boa matemática básica, apenas 10% da região para os 23 milhões de habitantes amazônicos se virarem em suas sobrevivências. Não sabemos como, mas, perguntamos aos messiânicos entendidos e defensores do paraíso bíblico aqui na Terra, por que a biodiversidade fica com 90% e os pobres brasileiros amazônidas com apenas 10% e se os seres humanos, por acaso, também fazem parte da biodiversidade terrestre ou se vieram de algum outro planeta do sistema solar?
A ânsia dos magnatas estrangeiros e os seus representantes assalariados em solo tupiniquim e inocentes úteis em geral em transformar 500 milhões de hectares brasileiros em 50, na base da repressão policial aos povos das florestas, que dizem defender, não escondem a ideologia capenga subjacente.
Sempre soubemos que os lobos dos capitalistas são os outros capitalistas, mas, nesse caso, as vítimas da devora são os novos capitalistas, ainda, descapitalizados das regiões menos desenvolvidas do Brasil.
A manobra dos monopolistas é nítida, para evitar a proliferação de novos capitalistas nas regiões garroteadas, apesar da auréola de liberdade e do primado da iniciativa privada tão decantada em verso e prosa.
No caso específico das águas, o que há, na verdade, é um grande descaso com relação à preservação dos recursos hídricos, que repetimos, não são escassos como as malas sem alça querem demonstrar.
Todo o santo dia, o sol evapora bilhões de litros de água dos oceanos e as despeja sobre todos os continentes. Que saibamos, ninguém nunca relatou a existência de uma chuva com água salgada.
A verdadeira face da irresponsabilidade dos arautos da preservação ambiental é que nos leitos onde correm essas águas maravilhosas e cristalinas, quando caem das nuvens, os hipócritas permitem que os habitantes das cidades ribeirinhas (quase todas), despejem bilhões de toneladas de fezes, urinas e esgotos industriais e domésticos em suas correntes.
Não vemos nenhum huck em crise transformista atormentando a vida dos poderosos que permitem esse crime ambiental, mas, apenas aos que querem trabalhar e produzir. Os rios Amazônicos estão se transformando em centenas de Tietês, mas, a bronca é com a utilização das riquezas florestais pelos nativos e outros brasileiros. Não ouvimos, por exemplo, um piu sobre as mineradoras que escavam buracos gigantescos em toda a Amazônia. Para os magnatas apenas tapetes vermelhos. Agora, vá um garimpeiro faminto tentar pegar algum minério no nosso solo ou um sem teto fazer uma choupana de madeira nos milhões de Km² daqui, que aparecem agentes do meio ambiente de todos os lados para prendê-lo, acusando-o de crime ambiental.Qualquer atividade econômica praticada pelos nortistas e brasileiros que para aqui vieram,que utilize a floresta, desde plantar soja, criar bois, comercializar madeiras, plantar cana-de-açucar, produzir carvão até plantar lavouras, é crime ambiental. O lema é desmatamento zero e fome, exclusão, miséria, abandono da infância, marginalidade e dengue, mil.
Mas, voltando ao tema das águas,todas as cidades desse mundão de meu Deus poderiam se transformar em grandes lagos de armazenamento de águas continentais, simplesmente, impedindo que os telhados urbanos continuem despejando nas artérias urbanas, a cada chuva, os seus cerca de 60% das águas pluviais urbanas que são originárias das áreas impermeabilizadas das coberturas prediais. Quem duvidar que faça os cálculos.
Os quarenta por cento restantes, que fluem nas áreas impermeabilizadas arteriais propriamente ditas, seriam, facilmente, captadas pelos lençóis freáticos através da implantação de bocas de lobos vazadas de concreto, repletas de brita e da dimensão de um metro cúbico cada, ao longo dos meios-fios, com interligação entre estas, por tubos de 100 a 200 milímetros.
Para isto, bastaria uma lei federal obrigando todas as residências e condomínios do país a reservarem uma pequena área de cada terreno urbano correspondente, para implantação de um tanque de retenção temporária de águas pluviais urbanas de 5.000 a 10.000 litros. Vide ilustração abaixo:
Habitação residencial com tanque de retenção compulsório por lei federal, neste caso na área de jardins. Opcionalmente, os proprietários poderiam construí-lo em qualquer área disponível do terreno, sob pena de não receber o habite-se, no caso de novas construções. Os tanques poderiam ter, a critérios das exigências legais, a segunda caixa d'água bi-articulada na parte superior do prédio, para utilização das águas pluvias em descargas sanitárias, torneira de jardins. lavagem de automóveis e outros usos menos nobres. Também, o sistema poderia conter filtro de brita ou de carvão ativado, bomba de recalque, tampa para tratamento e até medidores de saída para envio das águas aos grandes reservatório públicos, com sistema de crédito e débito entre a água fornecida e água recebida. Os edifícios já existentes poderiam receber incentivos fiscais e tempo estipulado para a implantação dos tanques de retenção, também obrigatórios, estando sujeitos à multas e até interdição em caso de desrespeito ao inalienável direito coletivo.
Crédito da imagem ao Arquiteto Adalci Ataíde, "in memoriam".
Pedimos desculpas aos leitores pela baixa resolução da imagem em função das limitações do tamanho permitido pelo Blog, tendo em vista a eficiência de carregamento das imagens.Entretanto, enviaremos a gravura em resolução de 600 dpi, a pedidos, através do serviço de comentários, desde que se indique o endereço eletrônico.
Essas duas singelas medidas preventivas no campo da hidrologia urbana seriam suficientes para se acabar definitivamente com uma série de catástrofes urbanas periódicas que infernizam os habitantes das cidades em todo o mundo, entre as quais, as abomináveis e recorrentes enchentes anuais e desmoronamentos de áreas de risco urbanas, que tantas vidas e bens materiais têm ceifado das populações mais pobres dos países, a erosão dos pavimentos urbanos, as endemias hídricas, o desperdício de água da melhor qualidade, além do descarte da pseudo-escassez escamoteada e mentirosa.
Qualquer cidadão comum e atento poderá observar, sem que seja necessária nenhuma formação acadêmica, que as artérias urbanas pavimentadas das cidades ribeirinhas (praticamente todas) se transformaram em milhares e milhares de novos afluentes fluviais de rios e córregos adjacentes, que antes nunca existiram nas bacias naturais, com os seus fluxos ultra-rápidos, os quais, despejam bilhões de litros d’água em leitos naturais não esculpidos para receberem tamanha carga hídrica. Do ponto de vista ilustrativo é como se um determinado rio tivesse tantos afluentes fixos pelas margens esquerda e direita e de repente passasse a ter o dobro, o triplo ou mesmo o décuplo e com torrentes em velocidade acelerada. Veja nas reportagens da TV e encare as torrentes urbanas sobre o asfalto como corredeiras ultra-rápidas de canoagem ou balsas infláveis tipo "Rafting", que desembocam nos córregos e rios urbanos em minutos.
Os fluxos de base dos lençóis freáticos levam dias até brotarem nas encostas dos rio e córregos com a pureza cristalina das bicas naturais que decem montanhas abaixo, sem resíduos de asfaltos, sem coliformes fecais, sem lixo, sem chorumes, sem as cusparadas, escarros e urinas urbanas, sem pó de pneus e sem toda a parafernália de excrementos e dejetos das cidades.
Também, seria de bom alvitre, relembrar que a soma das águas rápidas e poluídas que cada cidade despeja ao longo dos cursos dos córregos e rios urbanos a montante, têm um impacto catastrófico sobre as cidades e as populações a jusante, inclusive com enchentes periódicas e cada vez mais freqüentes e destrutivas nas áreas rurais que se seguem. Os noticiários televisivos mostram estes espetáculos deprimentes todos os santos dias.
A hidrologia urbana, ciência relegada ao segundo plano e ainda por ser codificada, que se complementa com a hidrologia natural ensinada nas escolas de engenharia, mostra de modo inquestionável como a proporção entre as águas pluviais superficiais e a retenção, infiltração e evaporação, foi invertida com o fenômeno da crescente urbanização. O solo natural que antes absorvia sete em cada oito litros das águas pluviais que escoavam lentamente através dos lençóis subterrâneos em fluxo de base, teve essa proporção invertida nos ambientes urbanos para um em cada oito litros, com sete litros escorrendo na superfície em velocidade gravitacional estonteante para leitos fluviais urbanizados e inapropriados.
A solução para essa catástrofe urbana passa obrigatoriamente pela construção de tanques de retenção temporária em cada habitação urbana e pela interligação destes com os grandes reservatórios – denominados de piscinões no jargão técnico da engenharia civil - exclusivos para a retenção, também temporária, de grandes volumes de águas pluviais limpas dos telhados urbanos, nos áreas mais baixas de cada cidade.
Visão aérea de um conjunto habitacional ilustrativo com a implantação do sistema de tanques de retenção e a canalização de recepção arterial de águas, externa, vendo-se, ao fundo, na parte mais baixa o grande reservatório público para acomodação das águas de contribuição recebidas de cada bairro ou distrito.Quando todo o sistema estivesse saturado, uma tubulação extravazora se encarregaria de interligá-lo ao córrego mais próximo.Essa singela tecnologia diminuiria em 60%, as águas pluviais urbanas, contribuiria para uma oferta ilimitada de água para uso menos nobres nas residências e condomínios, nos meses de grandes precipitações, evitaria a mistura imprevidente de águas límpidas dos telhados com as águas poluídas arteriais, diminuiria o custo da água aos munícipes, aumentaria vertiginosamente a disponibilidade de água às cidades com baixo custo de tratamento, aumentaria sem limites o armazenamento de águas continentais, transformando cada núcleo urbano num portentoso lago artificial estratégico, evitaria as tormentosas enchentes periódicas que ceifam vidas e riquezas da população e colocariam um fim definitivo ao mito da escassez de água para o consumo industrial e humano. O sistema de bocas de lobos vazadas ao longo dos meio-fios arteriais, com brita e interligação entre si, providenciaria a eficiente infiltração das águas arteriais (40% do total) em cascata, de modo semelhante ao natural, contribuindo para a restauração do fluxo de base dos lençóis freáticos, diminuindo a poluição dos córregos e rios em seus perímetros urbanos e retardando, estrategicamente, no tempo, a chegada dos fluxos pluviais às bacias hidrográficas naturais.
Crédito da imagem ao Arquiteto Adalci Ataíde, "in memoriam".
Na Capital do Estado de São Paulo já existem esses grandes reservatórios, mas, de caráter misto, que armazenam as águas limpas dos telhados misturadas com as águas poluídas e contaminadas das ruas e avenidas, os quais, não têm resolvido os problemas das enchentes, mas, apenas atenuado, por falta da colaboração dos cidadãos paulistanos, cujas residências continuam despejando e desperdiçando bilhões de litros d’água, a cada chuva, nas ruas e avenidas da cidade.
Quanto aos esgotos urbanos, que são despejados continuamente sob a forma de excrementos domésticos e os dejetos industriais, nos rios e córregos urbanos, a solução é ainda mais singela. A simples implantação de coletores de interceptação de esgotos laterais por gravidade ao longo das duas margens de cada córrego e rio, nos seus perímetros urbanos e com estações de tratamento (ETEs) nas extremidades, seriam suficientes para separar os dois tipos de água.
Aos rios em seus perímetros urbanos, abertos ou subterrâneos, que fluem para as zonas rurais contíguas, somente teriam acesso as águas pluviais residuais arteriais e os fluxos de base captados pelas bocas de lobos de brita, anteriormente citadas, cujas águas ali chegariam naturalmente filtradas pelos solos.
Em megalópoles com os renitentes problemas de congestionamento de veículos automotores, que consomem a energia, a paciência e a saúde da população, como São Paulo, os rios e córregos bem dimensionados para as cargas hídricas correspondentes, poderiam fluir no perímetro urbano por via subterrânea, na mesma sistemática de separação de águas, dando lugar na superfície, às super trilhas (Bus) de 16 vias em cada direção ao estilo do tráfego de dados nos computadores. Sistemas de roteamento científico de veículos com cruzamentos mínimos, compostos por viadutos, rampas, pontes, desvios e entradas e saídas nos bairros e estradas (periféricos), complementariam o sistema de tráfico a imagem e semelhança da tecnologia da informação. Utopia? Não, apenas idéias para pesquisas e projetos.
Essas idéias foram concebidas há exatos 18 anos, durante a elaboração, com o apoio de competentes arquitetos e ambientalistas, sob a nossa coordenação, do projeto urbanístico João Pessoa-2000, iniciado em 1990.
O referido projeto ficou exposto na Assembléia Legislativa do Estado, da qual, recebemos um voto de aplauso, na Câmara de Vereadores da Capital, em salas de convenção e no Seminário Internacional sobre Turismo Ecológico - I Ecotur, em março de 1996. Também, o levamos em comissão, a reitores, prefeitos universitários, diretores do CEFET, professores de engenharia civil, de hidrologia e ecologia, prefeitos municipais e candidatos postulantes, deputados federais, estaduais e vereadores, secretários de meio ambiente, planejamento e obras e até a governadores e ministros.Revistas e jornais da cidade deram destaques especiais em várias edições, sem que despertasse o menor interesse dos vaidosos e arrogantes políticos e governantes.
Projeto urbanístico e paisagístico João Pessoa-2000, iniciado em 1990 e exposto ao público entre 1995 e 1996, durante cuja elaboração, a equipe responsável estudou todos os problemas viários da cidade, elaborou propostas de melhoria do sistema de transporte público, drenagem, abastecimento de água, saneamento básico, arborização, desfavelamento, inclusive com a implantação do sistema metroviário na cidade. Em primeiro plano, a reserva florestal da mata Atlântica da cidade com a Universidade Federal da Paraíba e os vales dos Rios Jaguaribe e Timbó ao longo e ao fundo. Infelizmente, as autoridades públicas da cidade e do Estado deram pouca atenção ao tremendo esforço de cidadania dos idealizaores e projetistas, privando que a avançada tecnologia contida no mesmo viesse a se difundir por inúmeras cidades do Estado, do Brasil e quiçá, do mundo.
Créditos do projeto urbanístico e paisagístico aos arquitetos Adalci Ataíde, "in memoriam" e Nabal Barreto, bem como, ao ambientalista Jaêmio Carneiro, todos sob a coordenação deste modesto Blogger e estudioso dos problemas brasileiros.
Todos acharam as idéias muito interessantes e até deslumbrantes, com tapinhas nas costas, apertos efusivos de mãos e elogios irônicos, quase sempre com o tradicional ar de deboche dos grandes auto-suficientes em todos os assuntos que dizem respeito aos grandes problemas da humanidade.
Quase duas décadas se passaram e as cidades com os seus sistemas hidráulicos arcaicos, além das costumeiras tragédias e prejuízos periódicos e anuais a milhões de pessoas, num espetáculo vergonhoso de descaso no trato com as coisas públicas, continuam a infernizar a vida dos cidadãos urbanos no Brasil e em todo o mundo.
Nossos projetos sempre tiveram dois grandes defeitos – Não constarem dos manuais estrangeiros e não pertencermos a nenhuma patotinha política, acadêmica ou rede de nepotismo.
O povo, entretanto, necessita saber que a ciência e tecnologia aportam soluções simples e baratas, ao alcance das mãos para quaisquer problemas que o aflige e que os responsáveis não os enfrentam, ou porque não desejam ou porque são acomodados.
Editado por Roberto C. Limeira de Castro às 17:37
*Devido a problemas de configuração do Blog, não incluímos as imagens na primeira edição de 25/03/2008, providência que tomamos neste instante, às 13:55 de 27/03/2008. Pedimos desculpas aos leitores que se privaram das explicações ilustrativas.
4 comentários:
legal.....
Ótimo!
Ótimo! Precisa ser realizado!
Após todos esses anos, aparecem agora os primeiros prédios modernos com o sistema complementar de captação de águas pluviais - Sisccap.
Teria de ser obrigatório por leis federal, estadual e municipal para acabar com três martírios da população, as enchentes urbanas, as secas e as erosões do solo. Estou muito feliz por ter feito uma homenagem ao teu saudoso pai que muito contribuiu para a confecção destes projetos magníficos.
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