Em julho de 1987 havia sido fundado o Clube dos Treze.
Residindo em São Paulo naquele período, pudemos presenciar toda a conspiração dos dirigentes dos grandes clubes brasileiros para banir os clubes das regiões menos favorecidas da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, com vistas ao açambarcamento de praticamente todos os recursos circulantes no setor.
Indignados com eliminação sumária da maioria dos clubes do norte e nordeste de uma competição nacional de absoluto sucesso com média de público de 16.176 torcedores nos estádios, entre 1971 e 1986, quando o Brasil tinha metade da população atual, estávamos retornando a nossa cidade natal, João Pessoa, onde nos estabelecemos com um pequeno comércio.
21 anos depois o nosso futebol ainda patina em média de 13.468 espectadores, entre 1987 e 2007, com o país atingindo o dobro da população. 17.000 de média em 2007 foi à glória para os adeptos da marmelada de pontos corridos dos Treze.
Voltando ao assunto, a idéia de reação martelava a nossa cabeça dia e noite.
Em agosto de 1990, finalmente veio a iluminação.
Somente poderíamos reagir através do fortalecimento e da capitalização dos clubes locais, e isso só seria possível, transformando os certames regionais em economia de escala.
Com base na filosofia de “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, entregamos a 05 jornalistas esportivos de destaque da cidade, o nosso panfleto visando proporcionar o debate do tema nos programas esportivos de rádios e nas editorias de esportes dos principais jornais do Estado – Fernando Heleno (na época, o comentarista autêntico da Rádio Tabajara), Antonio Hilberto (redator de esportes do jornal Correio da Paraíba), Hitler Cantalice (saudoso comentarista da Rádio Arapuan e colunista do Correio), Tavinho Santos (Editor de Esportes da Arapuan) e João de Souza (locutor de pista, narrador e futuro chefe de esportes da Tabajara, na época Presidente da Associação dos Cronistas Esportivos da Paraíba – Acep.).
Naquele ato, acabávamos de apresentar, ao meio futebolístico paraibano, duas ousadas propostas para nos contrapormos às injunções políticas descabidas dos dirigentes do sul-sudeste.
1.Entrega imediata de todos os estádios públicos, em regime de comodato, aos principais clubes paraibanos, como fórmula de fortalecê-los em termos de capitalização e renda.
2.Implementação, o mais rápido possível, de uma Copa do Nordeste para mostrarmos a força do futebol paraibano e nordestino.
Graças à ousadia, ganhamos um bom trânsito entre alguns dirigentes e jornalistas e um ódio mortal de uma toda poderosa do futebol paraibano e de seus vassalos, apenas porque tentávamos ajudar o futebol do nosso Estado e da região.
Aquela reação, para um marinheiro de primeira viagem nas hostes políticas do futebol, era incompreensível. Ainda não conhecíamos as relações promíscuas entre os opressores e os oprimidos bajuladores.
À perseguição, respondíamos com novas idéias e com o aperfeiçoamento da Copa do Nordeste.
Ganhamos a admiração do Presidente do Botafogo F.C. da época, grande benemérito e apoiador solidário do futebol paraibano, Sr. Fernando Mendes da Silva, que ao período arrancava os cabelos da cabeça à procura de uma salvação financeira para o clube do coração, vergonhosamente, impedido de participar dos certames nacionais.
Fernando Mendes da Silva - Ex-Presidente do Botafogo F.C. de João Pessoa-PB, Ex-Diretor Financeiro da Asclub e atual Vice-Presidente da Federação Paraibana de Futebol. O futebol do nordeste e do Brasil deve muito a esse moço de visão larga e de grande humildade e dedicação ao futebol paraibano.O anjo da guarda na luta para a implantação de nossos projetos no nordeste e no país.
Fonte: Site Oficial da Federação Paraibana de Futebol
Preparamos dois novos artigos para o jornal “O Norte”, publicados em destaque em duas edições dominicais de 1991, por insistência do corajoso e ético editor Roberto Santos, diante da tremedeira dos jabazeiros esportivos incrustados na redação de esportes do jornal.
Em 1992, logramos a fundação da Asclub – Associação dos Clubes de Futebol Profissional da Paraíba, também de nossa verve, que teve excelente recepção por parte de todos os presidentes dos clubes do Conselho Técnico Arbitral do Estado, para desespero da poderosa vitalícia.
Assumindo a assessoria de mercadologia da nova entidade de classe, contrariando alguns teleguiados presentes, pudemos preparar e enviar à mentora nacional um completo e detalhado projeto de criação de cinco certames regionais do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste numa versão brasileira do NBA – North-American Basketball Association, voltada para o futebol, respaldada por recursos de uma loteria instantânea, mais tarde implantada pela IBF – Indústria Brasileira de Formulários em inúmeros grandes clubes do Brasil como o Grêmio, Internacional, Coritiba, Palmeiras, Vasco, Sport, Fortaleza e Ceará, etc. e somente não implantada pela Caixa Econômica Federal em virtude da renúncia de Fernando Collor de Melo.
A resposta da CBF foi lacônica, curta e grossa: “Não temos interesse no projeto.”.
Em finais de 1993, no desespero de salvar os clubes paraibanos e nordestinos da falência compulsória imposta pelo C13, já como dirigente do Botafogo, ligamos para o programa esportivo Bola ao Centro da Rádio Clube de Pernambuco e fomos colocados no ar pelo narrador garganta de aço Roberto Queiroz.
Cem kilowatts na antena e audiência fechada em todo o nordeste nos garantiriam, várias entrevistas especiais na Rádio Poty de Natal e na própria Rádio Clube, meia página no Diário de Natal e uma curta notinha nacional no Jornal dos Sports do Rio de Janeiro.
A reação do cordão dos puxa-sacos dos opressores veio a galope. Os dedicados próceres ao futebol nordestino nos declararam “Persona non Grata” em todo o futebol nordestino na reunião do Amém em janeiro de 1994, com direito à expulsão sumária das dependências da FPF-PE, onde fôramos a convite do Vice-Presidente Regional da CBF Dr.Carlos Alberto de Oliveira.
A proibição da entrevista causou um grande mal estar com a imprensa pernambucana e culminou com a eleição da grande liderança nordestina para o lugar do seu irmão, que na ocasião estava licenciado e nada teve com o desentendimento e a crise.
Demonstrando toda a sua independência e sem medo de cara feia, além de irritado com as manobras do C13, Dr. Carlos associou-se com o Presidente da Federação Alagoana, seu amigo pessoal, e promoveu a Primeira Copa do Nordeste em 1994, em Maceió em dezembro de 1994.
O futebol de Pernambuco ressurgira das cinzas, como um Fênix, após um período fértil de debates democráticos no Fórum de Aldeia e a participação efetiva dos governos estaduais através da vinculação dos ingressos com a fiscalização tributária estadual.
Os anos de 1995 e 1996 foram de intensas conversações, viagens e caravanas de jornalistas liderados pelo prócere pernambucano, que trouxe consigo os demais presidentes das entidades nordestinas e o apoio e confiança dos dirigentes dos principais clubes da região.
Com o retorno do Torneio Rio – São Paulo em 1997, a delegação nordestina presente ao Primeiro Fórum de Debates do Futebol Brasileiro logrou incluir no calendário nacional de 1997, a II Copa Nordeste, que entre 1997 e 2002 serviu de modelo para os demais certames regionais, tendo sido considerada pela Revista Placar como a melhor competição regional do Brasil em 2001. Os demais certames regionais do Norte, Sul-Minas e Centro-Oeste se seguiram naturalmente, assim como, a Copa dos Campeões de 2000, 2001 e 2002.
Ali estava funcionando às mil maravilhas, o magnífico formato do NBA, aplicado ao futebol brasileiro, com uma integração maravilhosa do futebol de todos os Estados do Brasil, inclusive, reconhecido oficialmente pelo Ministério dos Esportes através do seu Calendário Quadrienal e com direito até aos play-offs por nós sugeridos no projeto da Copa dos Campeões enviado ao Dr.Gilberto Augusto Martins Coelho, que sabiamente, os implantou no nosso futebol.
Todo esse esforço, consolidado e homologado por toda a comunidade futebolística nacional presente ao II Fórum de Debates do Futebol Brasileiro promovido pela Federação Paulista de Futebol em parceria com a CBF, foi anulado por uma única canetada para o retorno das trevas de antes de 1997.
O restante da história, todos já sabem. O retrocesso e o esvaziamento do futebol de todos os Estados do Brasil e a súplica dos dirigentes regionais para o retorno do direito de viver.
Evidentemente, os prejuízos de cerca de R$ 300 milhões que deixaram de circular nos cofres dos clubes regionais nos últimos seis anos jamais serão reparados, entretanto, fica essa memória histórica do nosso futebol dos últimos 20 anos para que sirva de reflexão aos autoritários, teimosos e antidemocráticos dirigentes do futebol brasileiro.
Editado por Roberto C. Limeira de Castro às 17:40
Nenhum comentário:
Postar um comentário