terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Colonizado não tem livre arbítrio nem gestão própria, tem agonia como sapo

Será que o futebol brasileiro é fraquinho porque vende mais jogadores, ou vende mais jogadores porque é fraquinho.

Resposta ao texto “O Brasil e a Golbalização 1, 2 e 3” de autoria do jornalista Juca Kfouri,

Seu texto, meu Caro Juca, é belo, longo, instigador e atual, mas, peca pela incoerência.

Todos nós, seus leitores contumazes e comentaristas do seu influente Blog, sabemos de sua predileção pela concentração de renda dos pontos corridos e por um grupelho mínimo de clubes privilegiados do sul e sudeste.

Quando você fala sobre o fortalecimento do nosso mercado interno e que fomos incapazes de fortalecer a estrutura dos clubes e em vez de aprofundarmos o potencial de capitalização do nosso futebol, realizamos a socialização da miséria, sabemos muito bem do que está falando. No seu horizonte o fortalecimento dos nossos clubes e a capitalização são apenas para os 13 clubes que você endeusa desde os velhos tempos da Revista Placar.

A miséria do nosso futebol ocorre, exatamente, porque temos um mercado de metade da Comunidade Européia, mas, os dirigentes coloniais reproduzem o colonialismo internacional no âmbito interno, impedindo pela força e pela intimidação que três das cinco regiões brasileiras possam desenvolver o seu futebol.

O futebol brasileiro parou de crescer e de se desenvolver porque as diretrizes emanadas da Fifa que é comandada pelos dirigentes europeus nos impõem que o futebol brasileiro tenha a sua divisão principal com apenas 20 clubes onde 13 clubes de 05 áreas metropolitanas o manipulam como querem. E acham pouco a manipulação da primeira divisão e também, manipulam a segunda e a terceira, para que os associados da organização que elege eternamente os dirigentes da estrutura viciada lá permaneçam e os votantes continuem mamando na iniqüidade.


A globalização, apesar de instrumento lógico do capitalismo financeiro internacional para concentrar capitais e rendas, não obriga em hipótese nenhuma que o globalizado seja subserviente ao globalizador.

Esse choque de gestão e eficiência que você prega como apanágio do desenvolvimento do nosso futebol, jamais existirá nas relações coloniais, das quais, você é intransigente defensor no âmbito interno brasileiro.

Quando os dirigentes da Fifa, que seguem as determinações e as doutrinas dos dirigentes europeus nos obrigam a seguir os modelos organizacionais incompatíveis coma a grandeza do nosso país, consubstanciados no colonialismo interno de uma região sobres as demais, nada mais estão fazendo do que reproduzir a mais valia num sentido único e escala decrescente.

A incoerência do seu texto salta aos olhos quando você passa a mão macia na globalização e no colonialismo externo e interno e na vergonhosa distribuição de recursos da televisão e da Timemania, porque lhe agrada, ao mesmo tempo em que propõe um pretenso choque de gestão realizado pelos colonizados da região hegemônica interna, de cujo sistema, você assina embaixo e faz muito proselitismo.

Ora, o colonialismo subserviente não tem querer próprio. Vive apenas das sobras que caem dos banquetes dos colonizadores, de cujas relações promíscuas com os colonizados, resulta a praga da corrupção do sistema, que você tanto condena.

A "Organização" e os pontos corridos que você tanto elogia estão para os expropriados do norte e nordeste do Brasil e a corrupção dos subservientes tupiniquins, assim como, os mistificadores europeus estão em relação aos exportadores de pé-de-obra dos Treze e os seus agentes federativos e receptores de jabá.

Quando os agentes da Fifa no continente dão preferência aos colonizadores internos de modo a que os mesmos dêem prioridades às mini repúblicas sul-americanas em dois semestres em detrimento das diversas regiões brasileiras e impedem que os subservientes tupiniquins possam organizar os seus próprios certames regionais, atrelando o sistema de expropriação a um Calendário Nacional claramente colonialista, nada mais estão fazendo do que impedir o desenvolvimento do nosso futebol e por tabela dos Treze recebedores de sobras do colonialismo externo.

Na reprodução do sistema de expropriação em escalas diferentes, onde não há lugar para criatividade, geração de conhecimento, contraditório, democracia e sistema representativo, também, não há lugar para um choque de gestão administrativa científica, que você prega no seu texto.

As pessoas que você tanto critica e o sistema que você tanto elogia, são filhos e irmãos siameses inseparáveis da mesma miséria consentida e da pior forma de colonialismo atávico, em que o colonizado vive para imitar, copiar e viver o “modus vivendi” do colonizador, sem se dá conta, que a sua miséria e indigência é causada pelas práticas coloniais. Quando um país continental representado por uma Confederação imita, reduz o número de participantes e segue reflexamente os Calendários e os modelos de campeonatos de pequenos países da Comunidade Européia, está na verdade se igualando a eles e renunciando as potencialidades mercadológicas de um Continente.

Recorremos ao magnífico texto de Alberto Memmi, em sua magnífica obra “Portrait du Colonisé précedé du Portrait du Colonisateur”, traduzida pela Editora Paz e Terra, sob o mesmo título “Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador” no qual, o autor sintetiza de modo inequívoco as práticas coloniais impostas pelos colonizadores aos colonizados.

“A situação colonial é, pois, como dissemos, um fenômeno social global, uma totalidade. Essa totalidade, no entanto, é constituída por interesses antagônicos e inconciliáveis, contraditórios, portanto. Em um primeiro momento, essa contradição permanece latente, mascarada pela aparente e provisória acomodação do colonizado. Convencido da superioridade do colonizador e por ele fascinado, o colonizado, além de submeter-se, faz do colonizador seu modelo, procura imitá-lo, coincidir, identificar-se com ele, deixa-se por ele assimilar. É o momento que poderíamos chamar de alienação. Ocupado, invadido, dominado, sem condições de reagir, nem ideológicas nem materiais, não pode evitar que o colonizador o mistifique, impondo-lhe a imagem de si mesmo que corresponde aos interesses da colonização e a justifica.” E arremata: “ Além disso, ao fabricar a ideologia do colonialismo, ao tentar estabelecer a tese de sua superioridade, que é puramente circunstancial e histórica, o colonizador desemboca no racismo. Ora, em que consiste o racismo? Em converter em “natureza” o que é apenas “cultural”, ou, com outras palavras, em converter o fato social em objeto metafísico, em “essência” intemporal. Para justificar e para legitimar o domínio e a espoliação, o colonizador precisa estabelecer que o colonizado é por “natureza” - incapaz, preguiçoso, indolente, ingrato, desleal, desonesto, em suma, inferior. Incapaz, portanto, de educar-se, de assimilar a ciência e a tecnologia modernas, bem como, de exercer a democracia, de governar-se a si mesmo”.

Nessa ambientação colonial, os invadidos, mistificados, espoliados, fascinados, submetidos, imitadores e dominados das regiões internas massacradas pelos invasores, mistificadores, espoliadores, sedutores e subjugadores internos, apenas, se reproduzem em escala ampliada nas relações coloniais internacionais.


Para tirar as suas próprias conclusões, leia o texto original do jornalista Juca Kfouri "O Brasil e a golbalização" no link a seguir:
http://blogdojuca.blog.uol.com.br/arch2007-12-23_2007-12-29.html
Editado por Roberto C. Limeira de Castro às 11:26

Marcadores: Colonialismo Interno, Futebol Carcomido

Nenhum comentário: