domingo, 4 de novembro de 2007

Reflexão sobre as amizades.

Onde se encontram os amigos?

Por Roberto C. Limeira de Castro


São seres especiais,
De auras serenas que nos fazem bem.
Sem as radiações negativas,
Sem as deformações espirituais.
Apenas a sinceridade das palavras positivas.
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Nossa sensibilidade logo os detecta,
Na leveza das mentes desarmadas,
No livro aberto da vida,
Na ausência de atitudes escorregadias,
No olhar firme e na fronte erguida.
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Na troca de olhares sinceros,
No vai e vem de pensamentos sadios,
Na permuta desinteressada de experiências,
No jogo do conhecimento sem presunção,
Na refinada sintonia da razão.
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Na sensível linguagem das almas,
Na cálida emanação dos corpos,
No seguro aperto de mão,
Nas atitudes mais simples,
Nas denúncias do coração.
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Nos tratos e nos contratos,
Convivemos e sentimos,
Percebendo nos detalhes abstratos,
Na opressão dos ambientes pecuniários,
Repletos de hostilidades e maus tratos.
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No desespero das almas inadaptáveis,
Na co-opção dos mais fracos e indefesos,
Na procura de um parceiro que ainda respira,
Na dolorosa angústia dos corpos sem liberdade,
Separamos o joio do trigo.

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No primado da escassez gerenciada,
Onde se encontram os amigos?
Diferentes ou do mesmo sangue,
Estão cada vez mais difíceis...
Nos refugiamos na solidão,
No império dos bens materiais,
Onde as ruas estão superlotadas,
Os lares abarrotados,
Os armazéns transbordando,
E os amigos, onde estão?
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Se, nascemos puros e livres,
O coração petrifica-se em vida.
Ameaçados pela tênue membrana,
Que separa o sucesso do insucesso,
Resta-nos sufocar as qualidades do ser.
E a vida, essa ficção de proteínas entrelaçadas,
Nossa única e maior dádiva,
Estilhaçada pelo acúmulo de bens,
Abre caminho para as tendências reptilizantes do ter.
E nos desencaminhamos.
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Desorientada pelo veneno do egoísmo,
Acorrentada pelos grilhões da necessidade,
Debilitada pela febre da posse,
Estrangulada pelas garras da avareza,
A alma extravia-se a esmo,
Na trilha da violência e do desamor.
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Confusos e desorientados,
Nesse jogo econômico dúbio,
De arrancar folhinhas de trevo,
Sentimos impotentes,
O nosso lento esvaziamento.
Então, nos refugiamos,
Em nossa própria opressão,
Por livre iniciativa, auto controlada,
A coletiva ou a corporativa,
E mais lépidos, tentamos nos reencontrarmos,
Conosco próprios.
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É como se procurássemos,
O que não existe.
Encontrar a razão de viver,
É o que dizem.
Os que justificam a sua própria insatisfação,
Procurar no dinheiro ou na religião,
A razão de viver, ou no sucesso,
É, no mínimo, um tremendo despropósito.
Pois, a vida não se justifica,
Mas, existe apenas para ser vivida.
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É na permuta cotidiana,
De dar e receber,
Que encontramos a nossa verdadeira vocação,
Assim, como os amigos de verdade,
Que vivem sem competir,
Para mostrar que tem mais,
Sem exibir as inúteis conquistas do sucesso,
Sem arrotar viagens,
Sem enfeitar-se com medalhas e condecorações,
Sem esbanjar vaidades,
Sem erguer os troféus dos bens duráveis,
Sem esguichar o champanhe das contas bancárias.
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Porém, se encontramos, por acaso,
A tão sonhada amizade,
Devemos lutar para preservá-la,
A qualquer custo.
Diante da cobrança excessiva,
Do patrulhamento infinito,
Da exigência de qualidades,
Que não exigimos nem de nós próprios.
Lealdade não se confunde com egoísmo,
Nem amizade com extremismo,
É hora de sermos quem somos,
Não deuses perfeitos,
Mas, apenas amigos.

Editado por Roberto C. Limeira de Castro às 15:33

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