quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Nosso inseparável companheiro primitivo

O MEDO

O medo é liquido e certo,
Entranhado na carne,
Desde eras passadas.
Moléculas circulam nas veias.
Adrenalinas, viciosas, amareladas.

Medo de dinossauros,
De grutas escuras,
De raios, trovões, tormentas,
De espíritos imaginários,
E de urros em manhãs cinzentas.

Os vasos comprimem-se,
A palidez se estampa,
A pupila dilata-se,
O coração aturdido se espanta.

O boi da cara preta,
Que se esconde nos telhados,
Assemelha-se ao cão bravio,
Que vive em terrenos murados.

Muda o móvel do medo.
A medula media, mede, modula,
Maximiza a motricidade
Modera a miastenia,
E malgrado a mogifonia,
Mobiliza os movimentos
E mitiga a miocardia.

Somos animais amestrados
Para ter medo, destino e sorte,
Da dor, do desemprego, da fome,
De Deus, da polícia, do chefe e da morte.

O medo nos entrelaça.
O medo nos cala.
O medo nos amesquinha.
De medo perdemos a fala.

De medo somos maleáveis,
Nosso reflexo é condicionado,
Em elogios e recompensas,
Ou em jaulas de ar viciado.

No contraponto da vida,
O maior de todos os medos,
Rígido, intransferível, gelado.
A Morte, Mega medo medonho,
No dia do grande medo,
Em um esquife de madeira,
Nem medo, nem ilusão, nem sonho.

Roberto C. Limeira de Castro

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