domingo, 23 de setembro de 2007

E por falar em discrepâncias e injustiças no futebol.

O Futebol Brasileiro é o retrato fiel da brutal concentração de rendas do Brasil e da exclusão social, política e participativa da população nas riquezas do país.


Em 2006, por contingência de uma das prerrogativas de nossa profissão de economista, que é a de calcular os fluxos econômicos e financeiros de setores produtivos do país, elaboramos um estudo completo de como o futebol das regiões mais pobres do país tem os seus recursos drenados, para não usar outro qualificativo mais adequado, pela engenharia de açambarcamento de verbas dos grandes clubes brasileiros.

Para irmos diretos ao assunto, colocamos abaixo a bela, belíssima, repartição de riquezas implantada há cerca de 20 anos pelos treze clubes malas sem alça das regiões sul-sudeste, capitaneadas por uma ou duas redes de televisão que se dizem porta-vozes da nacionalidade e da moralidade pública.




Fizemos uma análise econômico-mercadológica e crítica da planilha acima para que os dirigentes dos clubes e federações das três regiões prejudicadas pela repartição de recursos possam se posicionar nas suas possíveis reivindicações e principalmente, perceberem no barco furado em que estão metidos.

Nem discutimos os aspectos éticos e morais dessa usurpação de direitos mais comezinhos dos parceiros esmagados da instituição, mas, a própria falta de visão de açambarcadores e açambarcados de acharem que terão algum futuro com essa péssima distribuição de recursos, valores, possibilidades de sobrevivência e aproveitamento do grande potencial do nosso futebol num negócio enviesado que somente é bom para uma minoria e horrível para a maioria.

As regiões norte, nordeste e centro-oeste têm 43% da população brasileira, 27% do PIB, 74% dos Estados da Federação, 30% dos clubes e apenas 12% das cotas de televisão.

Os primos pobres das regiões sul e sudeste (SC-PR-ES) têm 10,5% da população, 11% dos Estados da Federação, 12% do PIB, 15% dos clubes e 11,63% das cotas de televisão. Estão bem à frente dos setentrionais, levando-se em consideração que estão na faixa de segurança ou a cima, tendo em vista que o Espírito Santo tem zero de cotas de televisão.

Já as primas donas dominantes (Clubes de apenas quatro áreas metropolitanas do país e dos respectivos Estados – SP, RJ, MG e RS) têm 46,5% da população, 15% dos Estados da Federação, 61% do PIB, 55% dos clubes e 76% das cotas de televisão, aliás, distribuídas ao bel prazer por eles próprios.

Juntos, os dois grupos do sul-sudeste têm 57% da população, 26% dos Estados da Federação, 73% do PIB, 70% dos clubes e 88% das cotas de televisão.

Também, as regiões norte, nordeste e centro-oeste têm juntas 27% do PIB do país (R$ 474,61 bilhões) e apenas 12% das cotas de televisão (cerca de 44 milhões) e 15% dos clubes da série "A" (3 clubes), com o valor de suas produções anuais se aproximando da soma dos PIBs do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, somados, os quais, têm juntos 30% do PIB cerca de (R$ 532,00 bilhões), enquanto, recebem 44% (cerca de R$ 150 milhões) das cotas de televisão e têm juntos nove clubes na série"A". Essa grande disparidade entre parceiros de uma mesma instituição se configura como um problema de ordem exclusivamente política e não econômica, como, também, queríamos demonstrar.

Essa vantagem econômica artificial que parece transparecer a competência tem resultados óbvios na conquista das melhores colocações nos campeonatos brasileiros das Séries A e B, levando os beneficiários às conquistas das vagas da Taça Toyota Libertadores, da Sul-Americana e às melhores posições da Copa do Brasil, além de renderem melhores contratos de publicidade, incremento das torcidas, compra dos melhores jogadores e a contratação de técnicos excepcionais por conta dos ganhos superiores, aumentando essa vantagem para cerca de 95% de todos os recursos do futebol brasileiro, como queríamos demonstrar.

Se alguns dos clubes protegidos são, por acaso, rebaixados para a série B, continuam recebendo 50% das taxas de televisão da série A, por conta das suas filiações à entidade dominante, os quais, levam nítidas vantagens no certame inferior sobre os clubes que recebem as pequenas taxas de televisão da série em pauta. Esse fator caracteriza, nitidamente, um viés na disputa dos certames tirando-lhes o caráter competitivo dos concursos e a isonomia e isenção das competições, num frontal desrespeito aos consumidores do produto.

Outro fator agravante é a redução das possibilidades competitivas de três das cinco regiões do país, além, de significantes parcelas do futebol do interior dos próprios Estados dominantes, em total prejuízo às regiões excluídas e com uma clara afronta ao respeito federativo entre municípios, Estados e regiões.

Em artigos posteriores, explicaremos em detalhes como funciona todo o esquema de favorecimento aos clubes dominantes, desde a transmissão virtual dos jogos até a concorrência desleal da televisão, passando pelo açambarcamento das verbas das loterias federais até os vieses das competições, além, de apontarmos soluções simples e justas para a implementação de campeonatos mais participativos e lucrativos.


Que precisa de conserto, achamos que não restam dúvidas, considerando os dados discrepantes acima. Resta-nos saber quem se habilitaria a colocar o sinete no pescoço do gato.



Postado por Roberto C. Limeira de Castro às 16:00 hs


Nenhum comentário: