PÊNDULO INDECISO
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Prosa em versos de um poeta amador
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Nem líquido, nem gás, nem concreto,
Premido no interregno incerto,
Transcende, oh! Ser! - em teus humores imerso,
Na travessia do teu árido deserto.
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Semi-sólido que vasculha o abissal oceano,
Teórico que investiga o volátil e o compacto,
Incólume, atravessa a atmosfera gasosa,
Frágil, arrebenta-se contra o solo, no impacto.
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Se os ossos que sustentam teus sonhos,
Possuem a rigidez da rocha vulcânica,
Os líquidos que permeiam teus interstícios,
Remontam à tua prisca origem oceânica.
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Os gases que se transmutam no peito,
Veneno em vida, vida em veneno,
Tornam-te no mais enganoso dos sólidos,
A moradia do Deus que te quer pequeno.
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Interjacente, em transitória dimensão,
Cercado em teu estreito pensamento,
Neste cérebro de ilimitada plasticidade,
Captura as fúteis emoções do momento.
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Na semiótica das palavras fugidias,
Como relâmpago em meio à tormenta,
Que te escapam à velocidade da luz,
Nos neurônios da massa cinzenta.
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Sobrevive em plasmática homeostase,
Obedece às leis de tua termodinâmica,
Equilibra-te no fio de uma navalha,
Entre os quantas e a metafísica tirânica.
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Rodeia-te de antiquados códigos morais,
Vetusta herança de sincréticas crenças,
Decifra as recônditas moléculas da vida,
Mas, sucumbe de insidiosas doenças.
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Legítimo filho das leis da física,
Arcaico herdeiro da teodicéia,
Escravo dos postulados econômicos,
Pêndulo indeciso entre a matéria e a idéia.
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Extravia-te nas inferências de tua lógica,
Classifica-te nas categorias da dialética,
Emaranha-te no cipoal da retórica,
Auto-protege-te nos rigores de tua ética.
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Limitado em gestáltica cartesiana,
Supera-te na dinâmica da abstração,
Estilhaça o insondável núcleo dos átomos,
Desafia a criogênica super-condução.
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Interfere nos domínios magnéticos,
Ensaia tua fuga na universal gravitação,
Especula sobre as super-simetrias,
Na unívoca trilha da unificação.
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Segue sedento vampiro...suga tuas vítimas,
Nas teias da tua inominável ganância,
Até o último suspiro, algema teus semelhantes,
No melancólico templo da ignorância.
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Adora o dinheiro, os totens e as bagatelas,
Açambarca a imensa colheita dos comensais,
Cospe bombas sobre os fracos e oprimidos,
Mas, cuida de orar no altar de teus arsenais.
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Vai "homo dubius", em teu santo maniqueísmo,
Cobre o teu rosto com o manto da riqueza,
Simula a tua egocêntrica salvação,
Enquanto, o mundo todo é tristeza.
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Engana o teu onipresente Deus inepto,
Que a cada dia vislumbras no espelho,
Só não ousarás ludibriar,
A face da morte com seu ceifeiro.
Roberto C. Limeira de Castro
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