A lógica cruel da ineficiência econômica e do parasitismo político-administrativo.
Quando éramos crianças lá no nordeste brasileiro, escutávamos a seguinte história contada nas rodas dos primos e tios adultos, que após oito ou dez anos vivendo no Rio de Janeiro ou em São Paulo, conseguiam reunir, às duras penas, sofridas economias para visitar os parentes na região.
Os ilustres visitantes, sempre com uma máquina fotográfica em punho para retratar os parentes pobres locais e mostrar as suas proezas econômicas nas cidades grandes, sempre perguntavam em tom jocoso e masoquista.
- Vocês sabem por que os nordestinos têm a cabeça chata?
- Não, oxente! Por que? Retrucavam os parentes locais.
- Eis que, o nordestino viajado com a sua fala já meio cantante e meio sibilante, respondia, às gargalhadas.
- Ora, Ora! Porque, desde o berço, com a moleira ainda mole, os pais batem na cabeça dos moleques e dizem: Cresça meu filho para ir para o Rio e São Paulo.
O presidente Lula, como ninguém, conhece essa história de cor e salteada.
Essa triste sina dos nordestinos, sem oportunidades de vida, com maior ênfase, ainda é a mais cruel e dura realidade para muitos jovens brasileiros de todas as regiões brasileiras fora do eterno eixo de poder econômico e político.
Os jovens das regiões sul, norte e centro-oeste também imigravam e continuam imigrando em menores quantidades, em função de existir em suas regiões melhores chances de sobrevivência forçada na agricultura sem a terrível seca nordestina ou na pródiga floresta amazônica. Entretanto, todos os jovens brasileiros vivem sem perspectivas de vida num país que não explora todas as suas potencialidades econômicas e humanas.
Durante séculos, toda a riqueza desse nosso gigantesco país foi drenada unilateralmente através dos extorsivos impostos para as duas poderosas cortes do país.
Tudo lá sempre foi grandioso e de bilhões, enquanto os demais brasileiros sempre devem se contentar com as pequenas sobras do farto banquete.
Não pensem que os cariocas e paulistas agem assim porque são cruéis. Essa é a lógica do sistema capitalista, aqui, nos Estados Unidos, na Europa ou na Ásia.
O poder político se atrela ao dinheiro numa simbiose inseparável.
Para confirmar essa verdade insofismável, a engrenagem sugadora de apenas duas cidades em relação ao gigantesco território brasileiro se repetiu em menor escala em todos os Estados brasileiros, com as elites de suas Capitais drenando todos os recursos de cada Estado para dilapidação com as ostentações de suas elites.
Esse processo de acumulação natural do sistema econômico vigente é tanto mais desastroso quanto maiores são as dimensões territoriais drenadas.
Quanto maior for à distância entre o contribuinte extorquido e as cortes, menores são as chances do mesmo ser ouvido e maior o seu empobrecimento.
Maiores são os recursos extorquidos pelos exatores, mais representantes eles elegem para defenderem os seus interesses nos parlamentos. Esse é um ciclo vicioso que se repete pelos séculos afora e que vão passando sem que nada de novo aconteça.
Enfim, uma vez estabelecida, a filosofia do “Mateus, primeiro, os meus” se esparrama como uma praga por todo o sistema sem dó e sem piedade.
Palavras de ordem e slogans se repetem em todos os rincões do país: “Brasil, um país de todos”, “Desenvolvimento com justiça social”, “ Fome Zero” etc. etc.
Nos discursos e nas propagandas pagas com os escassos recursos dos contribuintes, os políticos se deleitam com as suas belas frases feitas e esbravejam contra as desigualdades sociais e regionais, fazem milhões de promessas e terminam os seus curtos mandatos sempre do mesmo jeito que iniciaram, com mais concentração de renda e os seus semblantes chochos de vergonha.
A lógica da realidade político-administrativa do país segue o rastro implacável da lógica da acumulação do sistema econômico.
Nosso país não sairá do atoleiro em que se meteu sem uma profunda revisão no seu ordenamento territorial e político-administrativo.
A única forma de se avançar na desconcentração da riqueza e do poder, contrabalançando e atenuando a lógica cruel do sistema econômico é implantando uma gestão científica do nosso território e o melhor aproveitamento de suas riquezas abandonadas.
A manipulação de gigantescos programas econômicos como o PAC segue a lógica de manutenção da acumulação galopante e da inclusão social a trote. A instrumentação de facilidades para a concentração dos acumuladores e maiores investimentos em infra-estrutura para servir aos magnatas.
Como sempre, os pobres e esquecidos da periferia ficam com as suas esmolas de R$ 100 milhões para curarem as suas mazelas crônicas básicas, enquanto, os magnatas açambarcam R$ 100 bilhões, no alargamento vertiginoso do fosso existente entre incluídos e excluídos.
O pouco - com Deus - é muito. Repetem mais uma vez, o José, a Maria, o Antônio, a Clarice e o João, em suas tristes rotinas de pobreza e abandono, seja nos pampas gaúchos, nas montanhas de Minas, nos maciços baianos, nas caatingas nordestinas, nos cerrados do centro-oeste ou nas florestas amazônicas.
Os brasileiros não sairão da miséria com o aproveitamento de apenas 30% das riquezas do seu território, valendo a máxima para os sem Repúblicas das regiões acima citadas ou dos milhares de favelados das grandes áreas metropolitanas.
Em nome dos milhões de brasileiros de segunda classe:
INSTITUIÇÕES REPUBLICANAS E REORDENAMENTO TERRITORIAL, JÁ!
Roberto C. Limeira de Castro
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