segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Nunca Fizeram o que tinha que ser feito


OS NOVOS TAPUIOS DO PLANETA SOLIDÃO

Não há um só brasileiro ou estrangeiro neste país, que já não tenha indagado a si próprio, aos pais ou aos avós, e até a Deus, nos momentos de aflição e angústia, por que, num país gigante e maravilhoso como o nosso, com uma gente ordeira e trabalhadora em 98% dos casos, nada dá certo o suficiente para tirar o seu povo e o próprio país, das trevas.

Centenas de sociólogos, economistas, administradores públicos, parlamentares, empresários, ministros, governadores e Ex-Presidentes, enfim, pessoas de todos os credos e profissões, estudaram, pesquisaram e reviraram tratados e mais tratados, em busca, senão de uma resposta única, mas, pelo menos de uma boa pista.

Evidentemente, num país de uma complexidade científica como o Brasil, inúmeras são as causas do seu subdesenvolvimento.

Entretanto, nenhuma das causas tem o peso descomunal do que a sua horripilante distribuição demográfica.

Por que os brasileiros se amontoam como uns loucos desvairados à beira-mar e abandonam as riquezas interiores ao Deus dará?

No início de sua colonização, até que havia razões para esse comportamento. Os mapas brasileiros do século XVII, quase todos, mostravam as 15 Capitanias litorâneas em desenvolvimento ainda incipiente, mas, já com uma boa produção de produtos naturais para exportação.

Mas, um grande impedimento da expansão para o interior eram os índios da grande Nação dos Tapuios. Os Tupiniquins, os Tupis-Guaranis e os Tupinambás das demais regiões ainda se mostravam dóceis, mas, os Tapuios, segundo as lendas, eram arredios, guerreiros hostis e antropófagos. No mapa que se segue a região é chamada pelos cartógrafos estrangeiros de “Brasil Bárbaro”, como se pode ver.

Brasil dos Bárbaros - Mapa Holandês do Século XVII


Nesse país mitológico de selvas e montanhas intransponíveis, que ia de Minas Gerais até o Ceará, viviam os temidos, ferozes e assustadores índios Tapuios, conhecidos pela técnica de esquartejamento dos seus prisioneiros brancos e dos lautos churrascos promovidos ao ar livre em espetos rotativos de madeira sobre ganchos de árvores nas extremidades ou fornos da taipa como os da gravura abaixo, onde os membros daqueles que se aventurassem por aquelas terras, eram assados e degustados.



Tapuios esquartejando os seus prisioneiros e degustando os seus membros assados num forno de taipa. Mapa de Le Pére M.Corelli de 1688

Quando entramos no século XVIII, os bandeirantes, sertanistas e vaqueiros destemidos, empurraram os poucos comedores de carne humana que escaparam das chacinas, para as selvas do oeste.

Os que eram mais calmos e aceitavam a evangelização, se miscigenaram com os lusos descendentes para escapar da degola.

Essa era história contada pelas gravuras dos mapas de autoria estrangeira. Mais tarde vim a descobrir que os tapuios eram “ tutti bonna gente” e que as histórias de pavor eram contadas apenas para que os brasileiros não penetrassem pelos sertões afora e viessem a descobrir o ouro e as riquezas do país.

Como se vê, os métodos, hoje em dia, são muito parecidos com os de antigamente. Os xenófilos, os proxenetas e as ONGs estrangeiras contam, atualmente, que se explorarmos as nossas riquezas do oeste o mundo vai se acabar superaquecido, a biodiversidade vai ser extinta, a soja lá produzida é suja, a cana de açúcar não dá e outras histórias para boi dormir.

A maior prova de que os tapuios não eram essas feras que se contava, é que o meu bisavô era filho de um luso descendente, herdeiro de sesmarias dos Alburquerques de Picuí, no Curimataú paraibano, todos descendentes do intrépido Jerônimo de Alburquerque, ou com sua esposa portuguesa legítima e ou com a sua segunda esposa e filha de um chefe Caeté.

O pai, meu trisavô, era Galdino Limeira de Albuquerque, casado com uma legítima índia tapuia cariri, de nome Ana Maria do Amor Divino, como eram denominados os tapuios evangelizados, dizem, antes da evangelização, uma das Nações indígenas mais temidas de todo o interior do nordeste, que se estendia da Paraíba até o sul do Ceará.

A verdade, é que minha trisavó Ana era uma mãe e avó extremada e carinhosa, tanto com os filhos, quanto com os netos, tendo criado os seus dois filhos com muito critério, os quais ultrapassaram os 92 anos de idade e ainda criou uma prima órfã. Mais tarde, ajudou a criar os dez netos, filhos do meu Bisavô Felinto Limeira de Albuquerque, de um dos quais, o Francisco Salles Limeira de Albuquerque, a minha Mãe, ainda viva aos 82 anos, graças a Deus, é filha.

Quando faleceu lá pelos meados do século dezenove, Galdino deixou grandes extensões de terras para os poucos filhos, Felinto – meu querido bisavô que ainda conheci na infância e Idalina, a famosa tia-avó Dadaia, cujo filho Daniel, funcionário dos ingleses da Parahyba Tramways and Power, foi responsável pela implantação da primeira rede elétrica de João Pessoa e dos bondes, nos anos trinta do século passado.

Mas, a Fazenda São Gonçalo como era chamada, foi trocada por pequenas propriedades nos arredores de João Pessoa para onde já tinham fugido da seca, a irmã e todos os filhos e sobrinhos.

Quem escapou da terrível seca de 1877, não resistiu às provações das estiagens dos anos vinte, do século seguinte.

Mas, continuando a nossa história, as províncias brasileiras interiores eram denominadas com os nomes das temíveis nações indígenas que habitavam o interior oeste do Brasil, muitas das quais, ainda hoje existentes ou em homenagem às florestas ou aos animais.

Cariris Novos e Velhos, Caiapônia, Bororônia, Tapajônia, Xingutânia, Mundurucânia, Tapiráquia e Camapuânia – Estas duas últimas, eram as terras das antas e dos Camapus.

Para se chegar a essas longínquas províncias brasileiras, além dos riscos de serem trucidados pelos índios ferozes, diziam os estrangeiros, os colonizadores tiveram que ultrapassar serras e planaltos, para conquistá-las.

E assim o fizeram. A Capital Federal no centro do nosso território era um sonho dos Republicanos. Foi inserida na nossa Constituição Federal de 1891 e perseguida com ardor pelos brasileiros das gerações pós-Republicanas.

Vargas, com todos os seus poderes de uma ditadura e de um período democrático não teve cacife para implementá-la, cabendo ao ousado Juscelino, a glória por essa realização.

Eqüidistante de todos os extremos cardeais do país, a visão de Dom Bosco prometia uma nova era para os brasileiros, com a implantação de novos projetos de colonização, ocupação e reforma agrária.

A cada década pós-60, apareciam novos planos mirabolantes na cachola dos nossos planejadores.

Veio a Revolução Redentora com os seus Planos de Integração Nacional, seus PNDs – Planos Nacionais de Desevolvimento, suas florestas rasgadas, seus pólos de desenvolvimento e as suas agrovilas.

Duas décadas já haviam passado e nada. O Brasil para além de Tordesilhas insistia em ficar vazio. Os planos de gabinete ficavam apenas no idealismo de seus planejadores teóricos e as estradas e as agrovilas foram abandonadas com os malsinados brasileiros que acreditaram no delírio dos técnicos burocratas.

Os pólos foram tragados pela corrupção, pelo nepotismo e pelo desvio de recursos. O que era para se fazer, ninguém fazia. A organização territorial e político-administrativa do País.

Chegou à era dos caçadores de Marajás e dos gerentes da iniciativa privada com as suas degolas indiscriminadas de servidores públicos, suas aposentadorias compulsórias, suas reformas dos direitos trabalhistas, suas previdências privadas, suas privatizações de fancaria e suas liquidações do patrimônio público. Não fosse a reação dos poucos brasileiros ainda não cooptados, teria ido pelo rodo, a Petrobrás, a Caixa Econômica, o Banco do Brasil e os Correios e Telégrafos. E nada.

O que era para se fazer, continuou sem ser feito. A re-organização territorial e político-administrativa do Brasil.

A população brasileira cada vez mais se amontoava na beira mar ou até no máximo entre 300 e 500 quilômetros do quebra-mar.

Para além e nas vizinhanças à direita no sentido norte da agourenta linha divisória de Tordesilhas, 10% de brasileiros para o que der e vier, insistem e persistem na tentativa de explorar as riquezas de um país riquíssimo, mas, com um corpo depauperado por uma trombose paralisante do lado esquerdo de quem olha para o norte.

Brasil atual, com 170 milhões de brasileiros a estibordo e apenas 20 milhões nas terras do oeste da promissão.Fonte: Mapa Eleitoral-Demográfico do IBGE e TSE, redesenhado pelo próprio escriba.Explorando apenas 30% das suas terras, riquezas e do capital intelectual humano numa administração territorial e político-administrativa esquizofrênica, que faz ri qualquer acadêmico de Administração de Empresas.


O paciente com a sua circulação precária, somente de um lado do corpo, vai perdendo a sua vitalidade mental e com a sua cabeça já demonstrando sinais de retardamento, se enche de chagas do seu lado inchado.

O câncer metropolitano eruptivo em metástase avançada se espalha pelo lado ainda dinâmico do paciente e consome todas as suas energias.

As favelas, a exclusão social, a violência torpe e hedionda, o caos na circulação terrestre e aérea, as pragas dos comissionados do orçamento, “mensaleiros”, sanguessugas, e super-faturadores, as estradas da década de cinqüenta, o narcotráfico e o contrabando comendo soltos, a saúde em petição de miséria, a educação do quinto mundo, e uma justiça desaparelhada, vão consumindo o doente agonizante. E porque não há dinheiro para nada? Por que o país não explora com eficiência as suas riquezas e o seu capital intelectual e humano.

No entanto, a imprensa dos endinheirados somente se refere a uma única cantilena. Reforma disso, reforma daquilo, reforma daquilo outro. Reduzir custos para sobrar grana para os mesmos de sempre e pagar os juros extorsivos da dívida externa e da dívida pública interna.

A vinda do Messias salvador e de sua trupe mantém a política econômica dos magnatas e o modelo exportador-concentrador de nossas riquezas sem a contra-partida dos que entregam o chão para os exportadores. Tudo, sem um centavo sequer de impostos e as elites se esvaem em lágrimas contra a carga tributária.

Os arrogantes ministros da área econômica esquecem de tudo que o Brasil e os brasileiros precisam e somente falam em manter a inflação baixa, o controle fiscal e da moeda, a taxa de acumulação, o câmbio flutuante e as exportações de commodities.

O Brasil verdadeiro, dos corredores dos hospitais cheios, da melhoria da infra-estrutura, das estradas criminosas, da violência urbana inominável, dos brasileiros abandonados no meio do sertão e das florestas, das colheitas perdidas, dos milhares de jovens desempregados delinqüentes que superlotam as masmorras fétidas e sombrias, esse Brasil sempre fica para depois.

É comovente a subalternidade e a subserviência dos ministros da área social em relação aos Tuxauas da economia.

Organizar a administração do Brasil de verdade, nem pensar. Não se pode gastar dinheiro com essa metade acometida de trombose do doente.

Nem sequer. 2% dos ricos planos de aceleração, não sei de que, devem ser gastos com a coisa mais importante do país, que é a sua organização e o seu organograma político-administrativo e territorial. Como pode um país progredir se não tem um plano básico de administração do seu próprio território?

Nem se pergunta ou se pára para indagar o porque da agonia do doente na sua paralisia asfixiante.

O Titanic sem rumo ameaça soçobrar com metade dos passageiros acotovelados a estibordo, nos seus exíguos 200.000 quilômetros quadrados das áreas metropolitanas.

Poderiam, ao menos, perguntar quem foram os senhores feudais que orientaram os seus constituintes sacripantas a colocarem na Carta Federal esse imoral dispositivo que provocou e agrava a cada dia a saúde do doente?

Quem lançou o Brasil nas trevas medievais de sua organização territorial e político-administrativa?

Quem se habilita a restaurar os movimentos ocidentais do paciente terminal com a nova tecnologia da célula tronco, que pode melhorar a circulação dos territórios enfartados ou com alguma sessão de fisioterapia ou transfusões?

Os brasileiros, coitados, sem saber o que está acontecendo, aparecem nas telas enfeitiçadas das Redes Nacionais, chorando os seus mortos pela violência descontrolada, pelo trânsito caótico e até pela queda de aeronaves.

E lá, eles dizem:- Até quando?
Quando as autoridades brasileiras irão por um fim nesse genocídio?

E choram! E se desesperam! Na sua “ via crucis”sem fim.

E plantam cruzes em Copacabana e em Brasília. E rezam a oração coletiva dos desesperados e da dor. Alguém responde?

Não! Nem os poderosos, nem a imprensa tartamuda, nem ninguém.

Dom João III e os reis que se seguiram, em meados do século dezesseis e início do dezessete, já enviavam casais açorianos, madeirenses e degredados para povoar São Luis, Desterro, Porto dos Casais e outras cidades da costa brasileira.

Será que os representantes das novas cortes não se habilitam a enviar alguns milhares de casais de desempregados, sem terras, sem tetos e sem futuro, tão abundantes no lado oriental, muitos até com cursos superiores, mestrados e doutorados, para o País dos abandonados?

Que tal extirpar do corpo esclerosado, o dispositivo vergonhoso que impede a emancipação dos 20 milhões de brasileiros do Planeta Solidão do Oeste?

Somente os guardiões de Minerva e da Constituição do STF podem alforriar esses novos Tapuios do Oeste. Posso garantir aos membros da imprensa tartamuda, que esses brasileiros não promovem o esquartejamento, nem comem criancinhas.

Quem dera, os espíritas estivessem certos nas suas teses da reencarnação e da incorporação dos espíritos.

Assim, os 100 ou mais, parlamentares do Congresso Nacional que desejam, ardentemente, a criação de 10 Estados e 04 Territórios Federais, há décadas, sentariam numa mesa, todos vestidos de branco e de mãos dadas, convocariam o querido e eficiente Dom João III para incorporar no nosso Presidente, Lulinha, Paz e Amor.

Assim, Dom João III, resolveria essa parada em cinco minutos, expedindo 14 Cartas Régias padrões, no nosso eficiente Word e nomearia, ali mesmo, os 14 Capitães-Mores da sua mais estrita confiança. E estaríamos, conversados.

Mesmo, que uma tal revista semanal e uma rede nacional de televisão se prontificasse a fuçar os bois e a intimidade dos nomeados, no dia seguinte.

Para isso, eles são muito eficientes.

Postado por Roberto C. Limeira de Castro às 01: 48

Um comentário:

Val-André Mutran  disse...

Maravilha de texto. Parabéns!